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terça-feira, 16 de setembro de 2025

CIRCUITO CARIOCA DE ARTE DE RUA: CRITICA DE ANILIA FRANCISCA SOBRE A EDIÇÃO DE SETEMBRO


Brasil de Verso em Prosa

(GT Aslucianas)

"Café com Pão, Café com Pão..." e as atrizes circulam pelas cinco regiões do Brasil recitando as poesias de cada região, e cantarolando musicas e histórias nesse espetáculo para todas as histórias.

As músicas escolhidas são bem populares e fazem a plateia cantar junto, deixando a peça bem animada e participativa. A música ao vivo faz com que o público embarque em narrativas folclóricas e poesias com suavidade.

Entretanto, o excesso de elementos e adereços cênicos se faz desnecessário quando as atrizes conseguem representar corporalmente todas as intenções cênicas. Na verdade os elementos as vezes muito pequenos e que exigem as vezes detalhes na manipulação atrapalham o ritmo do espetáculo que poderia acontecer perfeitamente sem a correspondência visual, que parte redundante.


É louvável trazer nomes da literatura nacional para uma peça popular, na rua, o que já faz valer a pena essa narrativa que muitas vezes se assemelha a um sarau. O espetáculo realiza a que se propõe: valorizar arte brasileira e nossa identidade nacional"



Flautas Cariocas

(Orquestra Cariocas de Flautas)

A inusitada orquestra de flautas traz um repertório lindo, com muita personalidade e intensidade. É impressionante ver tantos instrumentos imponentes e com a sonoridade impactante - muito conhecidas dos nossos ouvidos, mas pouco vistas e execuções ao vivo.

O show não só pelas músicas muito bem executadas, mas pelas explicações entremeadas e muito pertinentes e elucidadoras de Sergio Barrenehea. A flauta é instrumento versátil pode oferecer, desde um som ágil e virtuoso até uma sonoridade mais calma e expressiva. Nesse sentido sensibilidade e a expressividade na execução das peças, que trazem vida à música e às emoções que ela pretende transmitir.


É impressionante a capacidade do grupo de tocar junto, manter o ritmo e as variações de intensidade (dinâmica) para criar uma performance coesa e muito envolvente.

Apesar de ser uma orquestra de flautas - talvez uma das únicas do Rio de Janeiro - não traz um repertório difícil, erudito - ao contrário, tiveram a felicidade de optar por músicas bem populares, que representam a música brasileira e seus múltiplos territórios e ritmos: com a capacidade de surpreender o público com um repertório ou uma abordagem inovadora que explore todo o potencial do instrumento.



Diáspora Nordestina

(Coletivo Pé na Lapa)


A intensidade e vida nesse espetáculo trazido pelo coletivo Pé na Lapa, realmente impressiona: não só pelo coro manifestadamente alegre e fazendo a plateia sentir muito prazer e pertencente dessa história e contagiante também politicamente engajada.

A peça conta a diáspora nordestina que é o deslocamento de populações da Região Nordeste do Brasil para outras regiões do país, impulsionado principalmente pela busca de melhores condições de vida e trabalho devido à seca e à falta de oportunidades em sua terra natal. Os destinos históricos incluem a Amazônia (durante o Ciclo da Borracha e outras épocas de seca) e, de forma mais expressiva, o Sudeste e o Centro-Oeste, onde os migrantes contribuíram para o desenvolvimento econômico e cultural.

Essa migração contribuiu muito para a diversidade cultural do Brasil, com
a influência da cultura nordestina em outras regiões e a preservação das tradições locais, além de contribuirem para o desenvolvimento econômico do nosso país.

Os dois narradores conduzem um elenco numeroso que recorre muitas vezes a comédia para ilustrar momentos tensos. Trazem uma coreografia harmoniosa e interessante, com figurinos bem chamativos e carnavalescos bem propícios para a rua, despojados e na estética semelhante ao grupo ao qual têm origem: TÁ NA RUA, que carrega a idéia de improviso e de simplicidade, em que a participação do público é parte essencial da cena.




Por Anilia Francisca

06 de setembro de 2025


Formada em Artes Cênicas pela UNIRIO (2004) e em direito pela SUESC (2001), é pós graduada em Arteterapia e Educação na UCAM, MESTRADO PROFISSIONAL em Teatro pela UNIRIO (2016). É DOUTORA em ARTES DA CENA na UFRJ (2024). 
Encenadora e dramaturga, já escreveu mais de 20 peças. Diretora com diversos prêmios em festivais nacionais, é fundadora e dirige há 25 anos o GENE INSANNO CIA DE TEATRO. É uma das produtoras do Ponto de Cultura eMGI - Ponto Multicultural Gene Insanno (Araruama/RJ). Professora de artes cênicas do RJ há 16 anos. Faz pesquisas sobre multifoco, teatro de autoficcão, ator criador, dramaturgias e teatro pós-dramático. Já dirigiu 5 curtas metragens, fez preparação de elenco e edição de diversos filmes, produziu e criou mais de 30 espetáculos teatrais no estado, além de festivais de artes cênicas, como o FESTAR que está na quinta edição.


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

CRITICA TEATRAL: LEANDRO PORTO FALA SOBRE O CIRCUITO DE AGOSTO

 

O último sábado, dia 16 de agosto de 2025, trouxe à Praça da Vitória, em Nova Iguaçu, uma noite repleta de encantamento e arte de rua, pelo Circuito Carioca de Arte de Rua. O público teve a oportunidade de assistir a três espetáculos distintos, cada um explorando a narrativa, a dança e a música de maneira única, evidenciando a diversidade e a riqueza da produção cultural local e nacional.


O espetáculo de abertura, “Quem Conta um Conto Aumenta um Ponto!”, trouxe ao palco da rua a magia dos contos populares brasileiros. Baseada na tradição oral, a narrativa se desenvolve em uma festa do pijama, onde crianças-narradoras recontam histórias do folclore nacional.

A Cia Villelarte demonstrou grande versatilidade em seus atores, que transitaram com leveza entre personagens e situações, mantendo o público envolvido com humor e criatividade.

A adaptação do espetáculo de palco para a rua foi feita de forma inteligente e lúdica, aproveitando o espaço aberto da praça sem perder o dinamismo e a expressividade do texto. Os recursos cênicos, embora simplificados, foram usados com criatividade, mantendo o encanto da narrativa e permitindo uma proximidade maior com a plateia. É relevante destacar o valor de um grupo local de Nova Iguaçu se apresentar em sua própria cidade, fortalecendo a cultura regional e a conexão entre artistas e comunidade. A experiência, divertida e de alta qualidade, deixou claro que a tradição oral continua viva e pulsante quando conduzida por artistas comprometidos.

Em seguida, o público foi transportado para um universo mágico com “Encontro das Sereias”, performance do Grupo Kianda Cia Multicultural. O encontro entre Kianda, a sereia preta de Angola, e Iara, a sereia indígena da Amazônia, foi representado por meio de dança, canto e percussão, criando um espetáculo musicalmente envolvente.

A performance destacou a importância de resgatar e valorizar os povos ancestrais e originários, usando a dança do carimbó como ponte cultural entre África e Brasil. A força poética do espetáculo aliou-se à consciência ambiental, convidando o público à reflexão sobre a preservação das águas e da natureza. A fluidez dos movimentos, a sincronização musical e a expressão corporal da artista demonstraram sensibilidade estética, resultando em um espetáculo musicalmente interessante.


O fechamento da noite ficou por conta de “Amaré – Contos do Mar”, do Grupo Aslucianas, que trouxe uma abordagem poética e musical para histórias ligadas ao mar. Com base nas obras de Rubem Braga, Hans Christian Andersen e nas canções praieiras de Dorival Caymmi, o espetáculo combinou ludicidade e consciência ambiental, apresentando temas de sustentabilidade com leveza e sensibilidade.

A trilha sonora original destacou-se como um dos pontos altos, tornando-se marcante e envolvente, permanecendo na memória do público mesmo após o término da apresentação. A combinação de música, narrativa e contação criou uma atmosfera acolhedora e encantadora, reforçando a capacidade do teatro de rua de dialogar com públicos de todas as idades. A leveza do espetáculo, aliada à relevância da mensagem ambiental, evidenciou a força da poesia e da música como ferramentas educativas e sensíveis.


O Circuito Carioca de Arte de Rua na Praça da Vitória mostrou-se mais uma vez como espaço de valorização da cultura local e do teatro de rua. Cada espetáculo trouxe seu universo próprio, seja pelo humor e lúdico da Cia Villelarte, pela beleza e ancestralidade do Grupo Kianda, ou pela poesia musical do Grupo Aslucianas. A diversidade artística, a qualidade das performances e o envolvimento do público reafirmam a importância de investir na arte local e na democratização do acesso à cultura, especialmente em espaços abertos e acessíveis como a Praça da Vitória.



 

Leandro Porto

Mediador Cultural

@arteepalcoproducoes


Leandro Porto  é a
tor, diretor e produtor, cuja formação em Artes Cênicas e Pós-Graduação em Gestão e Produção Cultural proporcionaram uma base sólida para sua carreira multifacetada nas artes. Com uma paixão evidente por seu ofício, Leandro atua não apenas como intérprete, mas também como estrategista na gestão cultural, tem experiência em festivais de teatro regionais, nacionais e internacionais. Faz parte do Corpo Pedagógico de Juri dos Festei, Festival Nacional de Ibiúna desde a primeira edição e possuí experiência internacional em Festivais de teatro, tendo feito residência no Festival de Teatro de Tacna, no Peru. Possui registro e DRT como Ator, Diretor de Produção e Diretor Teatral.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

CRITICA TEATRAL: JUKA GOULART FALA SOBRE A EDIÇÃO DE JULHO DO CIRCUITO CARIOCA DE ARTE DE RUA

 

Circuito Carioca de Teatro de Rua – Espetáculos que encantam e convidam a sonhar

A Domadora de Bicicletas – Marmotagem e Cia.




Com ternura e humor, a palhaça Marmota (Tina Carvalho) nos leva de volta aos tempos mágicos dos circos. Em uma sequência leve e divertida, ela conquista o público — especialmente as crianças — com sua graça e habilidade. O visual do espetáculo é encantador: figurinos criativos e um cenário construído com elementos da bicicleta enriquecem a cena. A luz natural do dia pedia uma maquiagem mais marcante para destacar ainda mais os detalhes. A bicicleta, anunciada como protagonista, poderia ter ganhado mais espaço na narrativa. Mesmo assim, é um espetáculo doce e envolvente que provoca sorrisos e desperta memórias afetivas.





O Malandro das Cores – Grupo Origens


Cheio de brilho e gingado, "O Malandro das Cores" é pura celebração! Marcos Bandeira desfila talento com cada dança e gesto, narrando a mistura de culturas que forma o Brasil. O ponto alto? A emocionante performance de Marinheiro Só, eternizada por Clementina de Jesus, cantada em coro pela plateia. É a prova viva de que arte une todas as idades. Os figurinos são luxuosos e vibrantes, embora uma maquiagem mais elaborada pudesse completar o visual. Um espetáculo belíssimo — pena que tão breve.






Contarolando Luiz Gonzaga – Aslucianas


Recontar a trajetória de Luiz Gonzaga nunca é demais. Em "Contarolando Luiz Gonzaga", o teatro mostra sua força: em menos de uma hora, somos levados por músicas, figurinos e histórias que retratam a alma do povo nordestino — guerreiro, alegre e resistente. A encenação mergulha com sensibilidade na vida do Rei do Baião, embalada por canções inesquecíveis e visuais encantadores. É um convite à alegria e ao orgulho de nossa cultura.


O Circuito Carioca de Arte de Rua, realizado em Macaé, é mais que um festival — é um abraço da arte na cidade. Uma experiência imperdível para quem deseja se emocionar, sorrir e se conectar com a potência criativa dos artistas brasileiros.

 




 Crítica Teatral:  Juka Goulart @jukagoulart

Juka Goulart é ator, produtor, dramaturgo, roteirista, figurinista e maquiador, nascido na cidade de Rio Bonito. Iniciou a carreira artística fazendo peças no Colégio Cenecista Manuel Duarte (atualmente Colégio Cenecista Monsenhor Antônio de Souza Gens) onde estudava. Mas logo depois partiu para voos maiores, foi fazer aulas de interpretação com Marcelo Caridad. A partir daí, vendo que em Rio Bonito não supria suas necessidades, procurou se formar em renomadas escolas de teatro do país, tais como: O Tablado, CAL (Casa de Artes Laranjeiras) e Escola Técnica de Teatro Martins Penna, mas nunca abandona sua cidade natal. É a partir daí que assume a direção do SoMu D Riba, o Grupo Theatral da Sociedáde Musicál e Dramática Rio-bonitènse.



domingo, 22 de junho de 2025

CRÍTICA TEATRAL: RONNY PIRES FALA SOBRE O CIRCUITO DE JUNHO - EDIÇÃO DOS NAMORADOS

 Crítica – “Velho Circo, Novo Mundo” (Palhastônicos)



Com uma cenografia elegante em tons neutros e figurinos que dialogam com delicadeza, o espetáculo Velho Circo, Novo Mundo surpreende pela beleza visual e pela precisão cênica. Mas é na musicalidade que ele realmente brilha: composições envolventes, executadas com domínio e sensibilidade, fazem da trilha sonora uma protagonista silenciosa da narrativa.


O texto, recheado de ditados populares e referências à literatura brasileira, conecta humor e cultura de forma inteligente. O jogo entre os artistas é afinado, vivo, e a relação com o público — especialmente na rua — é leve, calorosa e cheia de escuta.


Um espetáculo sensível, divertido e tecnicamente muito bem construído. Vale (muito) ser visto.




🎤 Crítica – “Amor e Rima” (Nego Zú)



Nego Zú entrega em Amor e Rima muito mais do que um show de rap: entrega presença, verdade e afeto. O espetáculo é um encontro entre batida e sentimento, onde a poesia urbana atravessa o ritmo com delicadeza e força.


Cantando o amor e o pertencimento a partir da vivência preta periférica, ele constrói pontes entre a potência da arte e as urgências sociais do nosso tempo. As letras falam de ascensão, de resistência, de autoestima — sem romantizar a dor, mas com honestidade e esperança.


Na praça, seu carisma estabelece uma conexão imediata com o público. É arte que acolhe, que denuncia, que pulsa no coletivo. Amor e Rima emociona, eleva e convida à escuta. Um show que nos faz lembrar que amar, rimar e resistir seguem sendo atos revolucionários.


🎭 Crítica – “O Folclore do Amor” (Grupo Aslucianas)



O Folclore do Amor é um espetáculo encantador que mistura humor, cultura popular e afeto com leveza e poesia. A história de Literário e Cordelina — um casal em pé de guerra tentando entender o que é o amor — diverte e emociona com um texto repleto de referências à nossa literatura, à história do Brasil e à música popular.


A trilha sonora, recheada de clássicos da MPB e do cinema, embala a narrativa com charme e nostalgia. O elenco tem carisma, ritmo e entrega um trabalho cheio de vitalidade, especialmente em espaços públicos, onde o grupo brilha na proximidade com o público.


A única ressalva fica para a parte técnica: aspectos de som e microfonação ainda podem ser mais bem ajustados para valorizar toda a potência da encenação. Mas isso não compromete o encanto geral da peça, que é divertida, brasileira e apaixonante.


            Crítica Teatral   Ronny Pires     @ronnypiress



Ator, diretor e professor. Graduado em Licenciatura em Teatro pelo Universidade Estácio de Sá (2011), pós graduado em Psicopedagogia Institucional, Gestão Educacional pela FACI (2015) e mestrando em Ensino das Artes Cênicas pela UNIRIO. Atua desde 1999 no Grupo Gota, Pó e Poeira, renomado grupo do Espírito Santo. Onde atuou em diversas peças, sendo indicado ao prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de teatro da Tv Gazeta em 2000 com o espetáculo A Lenda do Talismã. Em 2018, recebe o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festa - Festival de teatro de Araçuaí - MG com o espetáculo A Absurda Comédia de Duas Vidas. Em 2022 vira cofundador da Cia Ayra-art e estreia seu primeiro monólogo Eu, preto! Em 2023, recebe o prêmio de melhor ator coadjuvante no Fetuba - Festival de teatro de Ubá - MG com o espetáculo Os Sacrilégios do Amor. Em 2024, estreia como diretor do espetáculo Calunga, a princesa que virou boneca. Pela Cia Mais um ponto, mais um conto e foi premiado com melhor direção no Festival de Guaçui.


Este projeto tem o patrocínio da Secretaria Especial de Integração Metropolina - Seim através do Programa Integra Rio

segunda-feira, 2 de junho de 2025

CRITICA TEATRAL: DANI CAMARA FALA SOBRE A EDIÇÃO DE MAIO DO CIRCUITO CARIOCA

 Rio de Janeiro 18 de maio de 2025

Mentirosos

A Cia Teatro Porão demonstra, com propriedade, o talento e a experiência adquiridos ao longo de seus 25 anos de atuação no teatro de rua. Desde o início do espetáculo, vemos o cuidado com a dramaturgia cênica e com o repertório coletivo. O uso de ditados e frases populares na composição dramatúrgica aproxima o espectador do universo apresentado, criando uma atmosfera de familiaridade e participação. E os atores mostram desenvoltura e domínio técnico ao interpretar diversos personagens, transitando entre eles com escolhas simples, porém muito bem executadas, que mantêm a atenção e o envolvimento de todos presentes.

A interação com a plateia se destaca também pela espontaneidade e boa condução. Vemos uma equipe habilidosa, aproveitando a dispersão natural da rua para transformar o espaço em um palco vivo, onde atores e público interagem de forma espontânea e envolvente. Um espectador foi convidado a participar e permaneceu por um longo tempo em cena, com desenvoltura. Esse momento, longe de quebrar o ritmo, ou de ser apenas um recurso cômico, fortaleceu a proposta do espetáculo e criou um elo com o espectador, evidenciando generosidade, cumplicidade e escuta cênica dos atores. 

A trilha sonora, muito bem escolhida, por sua vez, em todos os momentos funciona como um fio condutor que acentua emoções nos momentos certos, transformando o ritual de rua em uma experiência sensorial completa. Como sugestão, seria interessante dedicar atenção à execução musical ao longo de toda a apresentação, para que a contundência seja potencializada ainda mais do início ao fim. 

Outro destaque fica por conta dos figurinos e acessórios, confeccionados manualmente pela própria companhia, que trazem delicadeza e sutileza às peças, aproximando o público das memórias coletivas de afeto. Esse cuidado com os detalhes enriquece a experiência e reforça a conexão geral em todo espetáculo. 

A combinação de todos elementos citados faz da peça uma celebração do teatro de rua, que une técnica e criatividade de maneira harmoniosa e impactante. Saímos com gostinho de “Quero mais”!!! 




Pout Porri Canções do Bituca


Felipe Miranda e Marcus Garrett proporcionaram uma apresentação encantadora e emocionante em homenagem ao mestre Milton Nascimento. Com muita sensibilidade, eles conduziram o público por uma jornada de memórias afetivas, atravessando gerações e envolvendo pessoas de todas as idades presentes na ocasião.

A voz de Felipe, com seu timbre firme e aveludado, marcou a apresentação de maneira especial. Ele não busca imitar Milton, mas imprime sua própria identidade interpretativa, o que torna cada canção ainda mais autêntica. Sua entrega desperta lembranças, sensações e conexões profundas com o público.

Ao seu lado, Marcus Garrett, com sua execução delicada e precisa no violão, acrescenta harmonia e brilho à performance, sustentando com elegância a atmosfera lírica criada por ambos.

O resultado é um encontro respeitoso com o legado de Milton, aliado à liberdade artística de dois talentosos intérpretes que encontram um equilíbrio entre reverência e inovação. Felipe Miranda e Marcus Garrett nos oferecem uma homenagem carregada de beleza e sinceridade, à altura do homenageado.





O Coco que Vira Cocada, Vira Rosa

No espetáculo, As Panambis, se destacam por sua proposta calorosa de celebrar a cultura popular nordestina por meio da música, da dança e da menção à culinária — uma experiência sensorial que, sem dúvida, conquista o público. A escolha de canções, os momentos de dança e a interação direta com a plateia são pontos fortes que tornam a montagem viva, festiva e acolhedora.

As atrizes, com muita experiência de cena, são um dos grandes trunfos da peça. Elas conduzem a narrativa com energia, presença e generosidade, sabendo envolver o público com carisma e ritmo. O espetáculo acerta ao criar momentos de partilha e participação espontânea, fazendo com que o público se sinta incluído e tocado pela atmosfera proposta.

Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que, ao explorar uma cultura tão rica e diversa como a do Nordeste, o cuidado na representação faz toda a diferença. Reforço a importância em aprofundar ainda mais a pesquisa sobre gestualidades, sotaques e elementos culturais, evitando possíveis estereótipos e buscando refletir com mais autenticidade toda a diversidade que caracteriza essa região e essa cultura tão especial. O teatro desempenha um papel fundamental nesse processo de valorização, e a equipe já demonstra um talento evidente e uma base sólida para evoluir com pequenas revisões uma escuta mais atenta às nuances culturais. Dessa forma, a homenagem à cultura nordestina pode alcançar um nível maior de sensibilidade e respeito, sem perder a leveza, alegria e o entusiasmo, que existe no espetáculo ganhando cada vez mais verdade.

Parabéns à equipe pelo trabalho dedicado e pela proposta que, sem dúvida, enriquece o cenário teatral e cultural. É uma experiência que certamente deixa uma marca positiva e merece ser celebrada!



Crítica Teatral    Dani Câmara         @souldanicamara

Cantora, compositora, atriz, cidade do Rio de Janeiro e em São Paulo. Formada em Arte Cênicas/Direção Teatral na UFRJ, tem em sua trajetória prêmios e apresentações internacionais entre Argentina, Espanha e Portugal. Tem o Prêmio de Melhor Atriz Juri Popular no Cine Santo André SP com o Longa 'Solanas Explicado as crianças 2024, Melhor Cena e Melhor atuação Festival VR Cena 2021 com ' CORPA de Mula". Indicação melhor atriz coadjuvante Premio Musical Rio 2022 com o espetáculo musical 'Ceu Estrelado', Prêmio melhor cena pela direção do projeto "Disfarce" no Festival Internacional de Guaranésia MG 2021, Prêmio Música Sesi 2023 com "Dengo Preto", Prêmio Festival Internacional Red Bull Music, entre outros. Atualmente é apresentadora do Programa "Papo na Laje" - transmitido na TVT de SP/ Canal Comunitário do RJ e YouTube), é atriz e idealizadora do projeto teatral "Se Quiser Falar de Amor", é gestora da Empresa Cultural Corpa Negrura e desenvolve seu projeto autoral na cena contemporânea e nas plataformas de música e vídeo.


quinta-feira, 1 de maio de 2025

CRITICA TEATRAL: ANILIA FRANCISCA FALA SOBRE A EDIÇÃO DE PÁSCOA DO CIRCUITO CARIOCA DE ARTES DE RUA

 Histórias Cantadas e Contadas


Histórias cantadas de contadas, do grupo Cantando para Contar de São Gonçalo, Rio de Janeiro, traz uma intervenção artística bem dinâmica e bem alegre. A atriz Shanna Magalhães conduz de forma hábil, várias histórias infantis muitas delas na cultura popular, costuradas por cantigas de roda, trava línguas e brincadeiras cantadas.

A banda é extremamente sintonizada e a música ao vivo faz toda diferença - pois músicos em vários momentos também intervém no espetáculo e contribuem na narrativa e em diversas histórias chamando plateia para brincar junto. Voltado para o público infantil o espetáculo não deixa a desejar colocando todo mundo pra dançar e cantar, inclusive propondo coreografias.


Adultos também se divertem ouvindo tradicionais canções que também fizeram parte do repertório de suas infâncias. Embora seja um solo com banda, a peça -show não perde o ritmo e não deixa as crianças sentadas em nenhum momento, provocando momentos únicos de dança coletiva e trocas que são tão necessárias nesses tempos que clamam a interatividade.



O grande Agulha, único palhaço que vira unicórnio

Essa performance de palhaçaria que pode ser adaptável para qualquer espaço cênico consegue prender a plateia até o fim do número. Agulha vem com uma mala (infelizmente não adereçada como seu dono), anunciando uma grande façanha a qual ensaiou por muitos anos: virar unicórnio. É uma pena que não saíram mais surpresas de dentro dessa mala, que criou uma expectativa a respeito das inúmeros potenciais prometidos. Apesar disso, o palhaço compensa o público com piadas simpáticas e muita interação. Sinto que faltou musicalidade, e porque não, algumas outras Gags que pudessem abrilhantar melhor as diversas habilidades insuspeitadas do "nada modesto"Agulha.

O performer é bastante experiente, tem escuta aguçada e percebe público, troca com ele, algo bem raro de acontecer. É uma pena que o número foi muito rápido e a culminância pela qual todos esperávamos ansiosos, infelizmente, aconteceu sem a devida preparação para um ápice, um "grand finale", ou seja, um step by step - talvez seja, por causa disso, que muitos dos espectadores não perceberam que o número havia finalizado. De qualquer forma, como próprio palhaço disse, 'se por alguns poucos minutos conseguimos esquecer nossas vidas complexas, e destinamos um sorriso sincero nessa cena ' tudo já estaria valendo a pena. E valeu.



Histórias de Coelho

O grupo teatral ASLUCIANAS do Rio de Janeiro, traz uma proposta criativa quando usa a figura do coelho para interligar três histórias da literatura mundial. Algumas das histórias são bem conhecidas, como A Lebre e a Tartaruga, entretanto outras são provavelmente desconhecidas para a maioria do grande público como o conto de Clarice Lispector: O mistério do coelho pensante. O grupo apresenta um figurino interessante que chama bastante atenção da criançada, já que combina com muitas peças dos adereços que eles trazem, reportando ao mapa-mundi com ilustrações divertidas.


Há uma tentativa de introduzir músicas populares e uma trilha que conduz as histórias, entretanto só violão como instrumento harmônico e as vozes dos atores ainda não conseguem dar o colorido necessário para estimular um coro do público. É possível que a escolha do repertório devesse estar mais dentro do universo infantil, já que ao que parece, apesar de ser uma peça de rua, o público alvo são as crianças, ocorre que, isso nem sempre ocorre na montagem.

A peça é divertida, as atrizes são versáteis e transitam por diversas personagens e linguagens - inclusive o teatro de bonecos, o que prende e conquista uma plateia de todas as idades - mas o ator/músico fica bem sobrecarregado na missão de tocar e interpretar, afetando as multitarefas que são executadas, quase nem sempre de forma eficaz.

Por ser uma peça de rua, a escolha de fazer três historias curtas é feliz. Pois nem sempre o público consegue ver todas elas, e mesmo pegando uma ou outra, já se sente contemplado, pois as narrativas se finalizam e funcionam de forma independente.

Entretanto a montagem que ultrapassa 50 minutos torna-se longa para a plataforma que foi apresentada, pois com ritmos e abordagens bem distintas, dispersam a plateia, que muitas vezes não encontra a conexão entre as narrativas e desconecta-se.

O que é mais atraente no espetáculo são as temáticas tocantes e nobres que são tão necessárias - a solidariedade, o perdão, o respeito, a busca por um mundo melhor, a valorização da ancestralidade, entre outros. Princípios tão relevantes, que aqui são resgatados e nos comovem em muitos momentos. Não sao apenas histórias de coelho, são histórias de gente, para gente, sobretudo.



Por Anilia Francisca

29 de abril de 2025

Formada em Artes Cênicas pela UNIRIO (2004) e em direito pela SUESC (2001), é pós graduada em Arteterapia e Educação na UCAM, MESTRADO PROFISSIONAL em Teatro pela UNIRIO (2016). É DOUTORA em ARTES DA CENA na UFRJ (2024). 
Encenadora e dramaturga, já escreveu mais de 20 peças. Diretora com diversos prêmios em festivais nacionais, é fundadora e dirige há 25 anos o GENE INSANNO CIA DE TEATRO. É uma das produtoras do Ponto de Cultura eMGI - Ponto Multicultural Gene Insanno (Araruama/RJ). Professora de artes cênicas do RJ há 16 anos. Faz pesquisas sobre multifoco, teatro de autoficcão, ator criador, dramaturgias e teatro pós-dramático. Já dirigiu 5 curtas metragens, fez preparação de elenco e edição de diversos filmes, produziu e criou mais de 30 espetáculos teatrais no estado, além de festivais de artes cênicas, como o FESTAR que está na quinta edição.

Confira