Histórias Cantadas e Contadas
Histórias cantadas de contadas, do grupo Cantando para Contar de São Gonçalo, Rio de Janeiro, traz uma intervenção artística bem dinâmica e bem alegre. A atriz Shanna Magalhães conduz de forma hábil, várias histórias infantis muitas delas na cultura popular, costuradas por cantigas de roda, trava línguas e brincadeiras cantadas.
A banda é extremamente sintonizada e a música ao vivo faz toda diferença - pois músicos em vários momentos também intervém no espetáculo e contribuem na narrativa e em diversas histórias chamando plateia para brincar junto. Voltado para o público infantil o espetáculo não deixa a desejar colocando todo mundo pra dançar e cantar, inclusive propondo coreografias.
Adultos também se divertem ouvindo tradicionais canções que também fizeram parte do repertório de suas infâncias. Embora seja um solo com banda, a peça -show não perde o ritmo e não deixa as crianças sentadas em nenhum momento, provocando momentos únicos de dança coletiva e trocas que são tão necessárias nesses tempos que clamam a interatividade.
O grande Agulha, único palhaço que vira unicórnio
O performer é bastante experiente, tem escuta aguçada e percebe público, troca com ele, algo bem raro de acontecer. É uma pena que o número foi muito rápido e a culminância pela qual todos esperávamos ansiosos, infelizmente, aconteceu sem a devida preparação para um ápice, um "grand finale", ou seja, um step by step - talvez seja, por causa disso, que muitos dos espectadores não perceberam que o número havia finalizado. De qualquer forma, como próprio palhaço disse, 'se por alguns poucos minutos conseguimos esquecer nossas vidas complexas, e destinamos um sorriso sincero nessa cena ' tudo já estaria valendo a pena. E valeu.
Histórias de Coelho
O grupo teatral ASLUCIANAS do Rio de Janeiro, traz uma proposta criativa quando usa a figura do coelho para interligar três histórias da literatura mundial. Algumas das histórias são bem conhecidas, como A Lebre e a Tartaruga, entretanto outras são provavelmente desconhecidas para a maioria do grande público como o conto de Clarice Lispector: O mistério do coelho pensante. O grupo apresenta um figurino interessante que chama bastante atenção da criançada, já que combina com muitas peças dos adereços que eles trazem, reportando ao mapa-mundi com ilustrações divertidas.
Há uma tentativa de introduzir músicas populares e uma trilha que conduz as histórias, entretanto só violão como instrumento harmônico e as vozes dos atores ainda não conseguem dar o colorido necessário para estimular um coro do público. É possível que a escolha do repertório devesse estar mais dentro do universo infantil, já que ao que parece, apesar de ser uma peça de rua, o público alvo são as crianças, ocorre que, isso nem sempre ocorre na montagem.
A peça é divertida, as atrizes são versáteis e transitam por diversas personagens e linguagens - inclusive o teatro de bonecos, o que prende e conquista uma plateia de todas as idades - mas o ator/músico fica bem sobrecarregado na missão de tocar e interpretar, afetando as multitarefas que são executadas, quase nem sempre de forma eficaz.
Por ser uma peça de rua, a escolha de fazer três historias curtas é feliz. Pois nem sempre o público consegue ver todas elas, e mesmo pegando uma ou outra, já se sente contemplado, pois as narrativas se finalizam e funcionam de forma independente.
Entretanto a montagem que ultrapassa 50 minutos torna-se longa para a plataforma que foi apresentada, pois com ritmos e abordagens bem distintas, dispersam a plateia, que muitas vezes não encontra a conexão entre as narrativas e desconecta-se.O que é mais atraente no espetáculo são as temáticas tocantes e nobres que são tão necessárias - a solidariedade, o perdão, o respeito, a busca por um mundo melhor, a valorização da ancestralidade, entre outros. Princípios tão relevantes, que aqui são resgatados e nos comovem em muitos momentos. Não sao apenas histórias de coelho, são histórias de gente, para gente, sobretudo.
Por Anilia Francisca
29 de abril de 2025